Suas origens remontam a implantação da 7ª. Divisão Militar de São Miguel, em 1811, quando foram implantados os seguintes quartéis: São Miguel (Jequitinhonha), Bonfim (Joaíma), Vigia (Almenara), Salto Grande (Salto da Divisa) e Água Branca (Itinga).

Neste contexto, surge o arraial de Santo Antônio da Barra de Itinga, às margens do Rio Jequitinhonha. Em 1842, foi transferido para uma área mais elevada, onde foi erguida uma capela. O arraial foi crescendo, tornando-se um entreposto comercial.

No final do século dezenove, aproveitando-se da produção existente de algodão, o lugar conhece prosperidade econômica. Época do apogeu das navegações de canoas no Rio Jequitinhonha, que faziam a ligação entre Belmonte e Araçuaí – esta última a capital do nordeste mineiro naqueles tempos.

Neste ambiente, instalaram-se a Fábrica de Tecidos Bom Jesus da Lapa da Água Fria (Companhia Pereira e Murta) e uma usina de açúcar e rapadura. Problemas econômicos levaram ao fechamento da fábrica de tecidos. O lugar entra num processo de regressão econômica.

Em 1943, foi criado o Município de Itinga – termo de origem Tupi que significa água branca. Circunscrita à margem esquerda do Rio Jequitinhonha, isolada do outro lado da BR-367, a cidade ficou perdida no tempo até a inauguração da ponte pelo Presidente Lula em 2004.

Lá, retornei no início de 2014. É um sítio urbano, onde o Rio Jequitinhonha forma uma bela paisagem natural. A visita foi a oportunidade para uma reflexão sobre as carências do Vale do Jequitinhonha. A propósito, estudos recentes apontam que melhorias de infraestrutura e educação de qualidade são essenciais para a manutenção das populações nos locais de origem.

Estas políticas públicas estimulam o empreendedorismo, criando um ciclo virtuoso de progresso. De fato, a educação é a maior força de redução de desigualdades. Os programas assistenciais são fundamentais. Prioritários. Todavia, não são portas de saída para o subdesenvolvimento. É preciso ir além.

Assim, Educação e Infraestrutura precisam ser assumidas como prioridades de Estado. No caso da infraestrutura, a estratégia consiste na intensificação das concessões e parcerias público-privadas (PPP). Promovem o carreamento de recursos privados para projetos de investimentos: estradas, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, dentre outros.

Com isto, liberam-se os recursos públicos para investimentos, sobretudo, nas áreas carentes e não atrativas à iniciativa privada. Alguns números para o entendimento desta questão: i) a carga tributária brasileira é de 36,3% do Produto Interno Bruto (PIB) – quase o dobro da média dos demais países dos BRICS (18,5%); e ii) o investimento público, por sua vez, corresponde a apenas 2,5% do PIB.

Daí, a necessidade das concessões e PPPs. Refiro-me à mudança do modelo de financiamento da infraestrutura brasileira. Isto tem impactos para o Vale do Jequitinhonha, que requer a conclusão de obras essenciais para retirá-lo do isolamento e pobreza.

É o caso da BR 251, que se encontra interrompida em Pedra Grande, distrito almenarense. O prosseguimento desta rodovia até o Bandeira (MG) e a conclusão de alguns trechos, na Bahia, estabeleceria a ligação da região com o novo porto de Ilhéus.

Ano de eleições. É preciso ficar alerta. É o caso da implantação do campus da UFVJM e o asfaltamento dos dois trechos da BR-367. O voto nulo é um elemento de pressão, porém, não resolve o problema.

A saída é a escolha de governantes comprometidos com um projeto consistente de desenvolvimento socioeconômico de médio e longo prazo para o País. Este é o caminho para assegurar o desenvolvimento regional do Vale do Jequitinhonha. Já passa da hora disto tornar-se realidade.

(*) Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior. É Analista Financeiro do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados. Ex Coordenador Geral da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda.