Um dos mais preciosos bens naturais do planeta, a água, será discutido intensamente por uma semana. Acontecem em Brasília dois eventos para debater o uso e o acesso ao recurso em todo o Brasil. O Fórum Mundial da Água (FMA), organizado por empresas que indicam a privatização desse bem, e, de outro lado o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), feito por movimentos que defendem que “Água é um direito, não mercadoria”.

O conflito entre as atividades teria começado quando organizações populares perceberam que o FMA será um “fórum das corporações”. Ou seja, das empresas interessadas em explorar a água do país, e não em protegê-la. Na plateia do evento estarão representantes de governos, empresas de saneamento e principalmente grandes corporações, como Coca-Cola e Nestlé.

Assim, movimentos, sindicatos e ONGs se juntaram para realizar o FAMA, que acontece na Universidade Federal de Brasília (UNB), nos dias 17 e 18 de março, e no Parque Cidade, nos dias 19, 20, 21 e 22. O objetivo do evento paralelo é ouvir a população atingida pelos problemas hídricos, como a falta de abastecimento e atingidos por represas, e elaborar novas formas de uso e proteção da água.

A privatização da água, como é a proposta pelas corporações, tem tido resultados negativos nos países em que foi implantada, levando ao aumento do preço e deixando grande parte da população sem acesso ao recurso. Por isso, cidades estão remunicipalizando o serviço. Segundo o jornal El País, de 2000 a 2015, foram 235 casos de reestatização, na maioria concentrados na Europa. Paris, a capital da França, remunicipalizou seu serviço e, no primeiro ano, economizou 35 milhões de euros e reduziu a tarifa em 8%.

Cidades de Minas se preparam para Fórum Alternativo

O Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) organiza a população de duas regiões de Minas Gerais para participar do FAMA. Parte das pessoas sairá  do Vale do Rio Doce, região  atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton. Participam ainda representantes de cidades do Espírito Santo, do Leste de Minas e de Mariana. Segundo Pablo Dias, do MAB, o maior objetivo é fazer a denúncia da destruição da Bacia do Rio Doce.

A segunda caravana sai do Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas e leva representantes das cidades de Araçuaí, Grão Mogol e Montes Claros. Essa região, chamada de semiárido, tem sofrido com a escassez de água, conta Aline Ruas, do MAB. Os motivos principais seriam a falta de investimentos, a monocultura de eucalipto e a mineração.

“Na região do semiárido não foram investidas políticas públicas para conviver com a seca. Barragens foram construídas, mas não resolveram o problema. Por exemplo, a barragem de Setúbal e Calhauzinho, em que as famílias moram a 9 quilômetros da barragem e não têm acesso à água”, explica Aline. “O recurso do governo foi para atender a irrigação ou para função turística, não para atender o povo”, critica.

Montes Claros, cidade polo do Norte de Minas com 340 mil habitantes, passa por problemas de abastecimento há meses, em que bairros da periferia chegam a ficar 15 dias sem água.  O FAMA, para Aline, serão dias para debater situações como essa e criar estratégias para que “o povo tenha controle da água”.