A estiagem tem provocado a diminuição do curso de água no Rio Doce, em Governador Valadares. Nesta quinta-feira (8) a lâmina d'água registrou 40 centímetros abaixo do nível normal do rio. No dia anterior, foi registrado o menor nível do ano, quando a marca atingiu menos 46 centímetros na régua do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).

Para tentar garantir o abastecimento da população, o SAAE iniciou trabalhos para a instalação de um segundo equipamento para captar água no meio do rio. Segundo o diretor de engenharia do órgão, Amilton Vial, devido ao baixo volume de água, a estação Central só está conseguindo captar 200 litros por segundo, embora tenha capacidade para captar seis vezes mais.

“Já temos um módulo instalado captando água no meio do rio. O equipamento possui duas bombas, cada uma com capacidade de captação de 300 L/s, o que dá 600 L/s no módulo. Mais o volume captado pela Estação Central, estamos conseguindo 800 L/s. Para resguardar que não vá faltar água, estamos iniciando a instalação de outro módulo, com capacidade de 600 L/s; então, até o início da semana que vem, estaremos captando 1.200 L/s”, explica Amilton Vial.

Lucinha Teixeira, presidente da Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos (CTGEC) do Comitê da Bacia do Rio Doce, explica que os problemas relacionados à baixa de volume no rio foram detectados em 2014. Segundo ela, apesar do alerta do Comitê, as autoridades competentes não tomaram todas as medidas necessárias para prevenir e amenizar a situação.

“Bombas já foram instaladas no ano passado e agora novamente, isso deve pelo menos normalizar um pouco o abastecimento. Mas, além disso, é preciso ações de longo prazo para aumentar a produção de água na bacia do Rio Doce. A gente só vai fazer isso com reflorestamento, controle de sedimentos e o pensamento de fazer uso racional da água. Nesses últimos anos, já passamos por todos os tipos de surpresas desagradáveis muito por causa do impacto da ação do homem: cianobactérias, cheias, a pior estiagem dos últimos 80 anos e a isso se soma o rompimento da barragem da Samarco, então são vários problemas que temos que atacar com o apoio de todos os órgãos para reverter essa situação”, pontua a presidente.

Futuro do abastecimento
Segundo Lucinha Teixeira, esta situação não é exclusiva de Valadares e atinge toda a Bacia do Rio Doce. O Rio Suassuí Grande já está em situação crítica de acordo com o Comitê, tendo atingido na última semana de agosto vazão menor que um metro cúbico por segundo, nível menor que o esperado para esta época do ano.

Situação que agrava a preocupação com o abastecimento de Governador Valadares, pois é deste rio que está prevista a construção de adutora para captação alternativa de água para a cidade, obra que deve ficar pronta nos próximos dois anos. Para impedir que o nível do Suassuí Grande também diminua ainda mais, a presidente da CTGEC aponta medidas conjuntas que devem ser feitas.

“Nessa área do Suassuí Grande, o Comitê já iria atuar investindo R$ 10 milhões na recuperação de nascentes, controle de sedimentos, saneamento rural. No acordo da Samarco/Vale/BHP com os órgãos federais, a prioridade para a compensação florestal e produção de água são nas áreas à montante da captação. Fora ações da Copasa e do Instituto Terra. O que nós estamos tentando fazer enquanto Comitê de Bacia é tentar articular pra que essas ações não sejam uma sobrepondo a outra, mas se complementem, porque aí a gente consegue ter um investimento significativo de forma organizada pra produzir água na área do Suassuí”, conclui.