Economista Evandro Miranda (*)

Por ocasião dos 77 anos de instalação do município, ocorrido em 6 de março de 1938, trago às novas gerações de almenarenses alguns acontecimentos que remontam suas origens, associadas a implantação da 7ª. Divisão Militar de São Miguel (hoje, Jequitinhonha), sob o comando do Alferes Julião Fernandes Leão, em 1811.

À época, foram criados os quartéis do Salto Grande (Salto da Divisa), Água Branca (Itinga), Bonfim (Joaíma) e Vigia (Almenara) – esse último junto à confluência do Córrego da Vigia com o Rio Jequitinhonha, ao largo da Serra da Vigia.

Com a decadência da mineração do ouro e dos diamantes, essas guarnições militares  asseguraram a ocupação das terras férteis, ricas em madeira de lei e próximas ao litoral. Refiro-me às matas dos rios Doce, Mucuri e Jequitinhonha, até então, um território proibido, que funcionavam como impedimento natural para que os aventureiros alcançassem o distrito diamantífero: o  antigo Arraial do Tejuco (atual Diamantina). 

Neste ambiente, realizaram-se as viagens dos naturalistas europeus: Saint-Hilaire e outros, que percorrem o Brasil, incluindo o Vale do Jequitinhonha, no início do século XIX. 

Com a militarização das matas e o fortalecimento da presença da Igreja Católica, dá-se a ocupação do Médio e Baixo Jequitinhonha. No entorno dos quartéis, surgiram os primeiros núcleos urbanos, iniciando-se a derrubada da vegetação natural, que cede espaço às roças e fazendas de gado. 

Inicia-se, então,  o povoamento de Vigia, com  a abertura de uma gleba de terras pela família Ferreira Souto. Depois, foi vendida a José Pedro de Oliveira Lages, que se associou a Napoleão Fernandes Prates e João Antônio Cabacinhas.

Esse último é considerado o fundador do povoado de Vigia, o que se deu em 1864.  A convite dele, estabeleceram-se as famílias de José Branco e José Rodrigues, em 1875, quando foram construídas algumas palhoças à beira do rio, conformando-se a Rua dos Coqueiros – a mais antiga do lugar (vide painel de fotos de Daniel Gusmão).

Em 1885, deu-se a chegada do Cel. Pedro Antônio da Fonseca. Na sequência, em 1891, aportou Antônio Gonçalves Lisboa (vulgo Antônio Carapina) e o Tenente Henrique Marcelino de Oliveira.  Há ainda registros da chegada de Filogônio Olímpio de Souza – um incrementador do comércio local, assim como do Capitão Fulgêncio Nogueira, que construiu a Capela de N. S. D’Ajuda, inaugurada em 1914. 

Em 1887, o arraial é elevado a distrito de paz com a denominação de Vigia,  pertencente ao município de Araçuaí. No entanto, segundo Frei Samuel Tetteroo,  o distrito ganhou impulso somente na última década do século IXX, com a chegada dos seguintes pioneiros:

i) Cel. Hermano Antônio de Souza (1894), que promoveu  a abertura do trecho inicial da Rua do Sertão e algumas fazendas, tendo sido também o introdutor do capim colonião, e

ii) Padre João de Paula Sousa ( 1º vigário), que aportou em 1896, quando erigiu a  Igreja de São João Batista ao centro do Largo da Matriz. Registre-se que o Cel. Hermano e o Padre João foram os dois maiores construtores de casas do distrito de Vigia.

Peço licença para falar da chegada da família Miranda Sousa, que resultou de um convite do   Padre João ao primo Juvêncio José de Sousa. Entretanto, atingido por um câncer mortal, coube a viúva Elpídia de Miranda Sousa promover a  mudança da família. Em 1910, ela aportou, em Vigia, com os 5 filhos:

i) Olindo, que se casou com Zulmira Frois Otoni, em 1914, e  com Eunice Itapagipe Cecilo Silva em 1932; ii) Olinda, que foi uma das pioneiras do magistério vigiense; iii) Rosalvo, que faleceu num acidente com arma de fogo, sem deixar descendentes, após o casamento com uma das filhas do Capitão Zeca; iv) Belina, que se casou com Agenor da Cunha Peixoto em 1920; e v) José (ou Juca Miranda), que se casou com Elza Valença Fazendeiro em 1944. 

Em 1910, aportou também a Mestra Maria Cristina Ferraz da Silva, dando início ao ensino público no distrito, que resultará, mais adiante, na criação das Escolas Isoladas, depois, Escolas Reunidas de Vigia e no Grupo Escolar Conde Afonso Celso, em 1947. Junto com ela, aturaram as pioneiras professoras Olinda de Miranda e as irmãs Gaduxa e Angelina Nascimento.

Em 1914, o distrito teve sua toponímica alterada para São João da Vigia. Nesta época, surgem as lideranças dos beneméritos Cel. Deraldo Guimarães e do Capitão Zeca Gomes.

Nos anos vinte, desponta também o  Vereador Olindo de Miranda Sousa – o representante do distrito na Câmara Municipal de Jequitinhonha: locus de poder, onde eram tomadas as decisões, que envolviam as terras, em ambas as margens do Rio Jequitinhonha, até o Salto Grande.

Esses três últimos cidadãos desempenharão papéis protagonísticos no processo de emancipação política de Vigia, que será objeto da 2ª parte deste artigo.

(*) Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior (UNEB-DF). É Analista Financeiro do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados e ex Coordenador-Geral da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda