Por ocasião do aniversário da cidade, trago o texto capitaneado por um painel, cuja foto central é de uma das reuniões para criação da Vila  – termo usual, até os anos trinta, para referir-se a sede de um município. No caso: Vigia (hoje Almenara).

O original desta foto me foi encaminhada pelo amigo Júlio Mares. Dentre outros componentes do grupo, de difícil reconhecimento, fazem parte a jovem Elza, segurando uma bolsa, e o menino Cândido; Olindo de Miranda, de terno branco, à direita; Arcelino Antunes Luz (conhecido como Caçula) na porta à esquerda;  Natanael Mares, atrás das crianças; Hirassi Carvalho, de terno branco e gravata borboleta; e Deusdedith Gil, com gravata borboleta preta e lenço no bolso.

Peço licença para assinalar que Elza Valença Fazendeiro (ou seja, minha mãe) estudou no Colégio Nazaré – instituição pioneira de ensino do magistério no nordeste mineiro. Implantada pelas Irmãs Franciscanas, em Araçuaí, em 1926. A professora viria atuar nas Escolas Reunidas de Vigia, que remontam ao ano de 1910, e no Grupo Escolar Conde de Afonso Celso, implantado em 1947.

Também atuou no Grêmio Lítero-Teatral Castro Alves, em companhia do casal Antônio e Nui Amaral, Gaduxa Nascimento, João Gordo da Fonseca, Rivadável Almeida, Aílza Otoni, Ilda Duarte e outros. Grupo teatral dos mais atuantes no interior de Minas, sob a direção do intelectual José Cortes Duarte.

Em 1944, casou-se com José de Miranda (ou Juca Miranda), o primeiro Vice Prefeito de Almenara, eleito no pleito de 1947, também Prefeito entre 1950-51.

O menino, este se formou em Direito pela UFMG. Viria a ser prefeito de Almenara por dois mandatos: 1956-1960 e 1993-1995. Preocupado com a memória da cidade, o Prefeito Cândido Mares trouxe de volta a sede da prefeitura para o mesmo local, onde havia o velho sobrado, que a abrigou na Praça Benedito Valadares.

No segundo mandato, ele implantou o Paço Municipal Benedito Canabrava – homenagem ao primeiro prefeito, nomeado pelo Governador Benedito Valadares. Este também assinou o Decreto 58, de 13-01-1938, que criou o município de Vigia, implantado em 06-03-1938.

Em 1993, o Prefeito Cândido Mares deu início as micaretas. É a oportunidade para o encontro da comunidade almenarense espalhada pelo mundo afora. Reproduz o clima festivo, que tomou conta dos vigienses na noite de 12-01-1938, ao receber o anúncio de sua emancipação política, o que se deu através da Rádio Inconfidência, emissora oficial de Minas.

Não obstante as alterações, que muitas vezes geram polêmicas – o que é natural em qualquer acontecimento que perdura por mais de duas décadas –, a micareta faz parte do calendário turístico da cidade (vide fotos laterais do painel). Permito-me dizer que faz parte também do imaginário coletivo dos almenarenses, que lutaram pela conquista de sua emancipação política.

Ao trazer estes fatos ao conhecimento das novas gerações, não o faço por saudosismo, mas para manter a chama acesa. A proposta é contribuir para o resgate da identidade histórica e cultural de Almenara, que está se esgarçando com o passar do tempo. Isto ocorre em face da globalização desenfreada, assim como pela ausência de ações efetivas voltadas a sua preservação.

Na verdade, trata-se de um alerta. Afinal, o primeiro passo para liquidar um povo é apagar sua memória e livros, destruindo sua cultura e História. Este tema, portanto, é relevante e mais do que atual. Diz respeito ao fortalecimento da cidadania.

(*) Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). É Analista Financeiro do SERPRO – Serviço Fedeal de Processamento de Dados e ex Coordenador-Geral da Secretaria de Política de Econômica do Ministério da Fazenda