Adriano Chafik, o mandante do Massacre de Felisburgo (MG), será solto. Réu confesso do Massacre de Felisburgo, Chafik conseguiu um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e deve deixar a cadeia nas próximas horas desta nesta terça-feira. Além de participar diretamente da ação, Chafik contratou 16 pistoleiros para atacar as 230 famílias do acampamento Terra Prometida, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). As famílias pediam a desapropriação da fazenda Nova Alegria.

O episódio ocorreu em 20 de novembro de 2004, na cidade de Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. No ataque, foram assassinados cinco trabalhadores rurais e mais 20 pessoas ficaram feridas. Os pistoleiros ainda  atearam fogo em barracos e plantações. A liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) cassou a medida cautelar que determinou a prisão de Chafik no dia 21 de agosto, após o julgamento ter sido adiado por três vezes. Além do fazendeiro, o habeas corpus também foi impetrado em nome do réu Washington Agostinho da Silva, que permanece foragido desde o dia 21 de agosto.

Cenas de horror

O dia do Massacre foi 20 de novembro de 2004. Período: Manhã. A cidade: Felisburgo, em Minas Gerais. Local: Acampamento Terra Prometida. Saldo: Cinco homens mortos, 20 pessoas gravemente feridas, 200 famílias com suas casas e escola em cinzas, e um longo período de resistência e coragem, de luta contra a impunidade.

O dono da fazenda Nova Alegria, ocupada havia dois anos pelo Movimento dos Sem Terra, é Adriano Chafik. Ele e mais 17 pistoleiros invadiram o acampamento em uma manhã de sábado atirando aleatoriamente contra os que ali viviam. Foram assassinados Iraquia Ferreira da Silva, 23 anos; Miguel José dos Santos, 56 anos; Juvenal Jorge da Silva, 65 anos; Francisco Ferreira Nascimento, 72 anos; e Joaquim José dos Santos, 48 anos, todos trabalhadores do campo. O sobrevivente e morador do acampamento Jorge X presenciou o massacre. Ele conta que Adriano Chafik e os pistoleiros não queriam conversar, já chegaram atirando.

– Eles estavam muito bem armados, os que tinham menos armas, tinham duas – revela.

Ele conta que o episódio não durou muito. Após pouco tempo já se viam corpos no chão, muitos feridos e um cenário de horror no acampamento.

– Eles estavam tão bem organizados, foi tão premeditado, que depois dos tiros eles voltaram e de lá de cima, já saindo, eles atiraram de novo. A turma ia rodando e atirando, rodando e atirando, todos juntos – relata Jorge.

O massacre foi finalizado com o incêndio dos barracos, incluindo a escola da comunidade.

Nos dias que se seguiram ao do massacre, os moradores do acampamento Terra Prometida receberam visitas de apoiadores, políticos e jornalistas de todo o país. A repercussão do caso chegou até outros países, de onde vieram diversos tipos de manifestação de apoio. Um dos dirigentes do MST em Minas Gerais Silvio Netto conta como foram os primeiro passos de mobilização.

– A luta pela Reforma Agrária não é uma luta só dos camponeses, é uma luta de todo o conjunto da sociedade. Por isso, o MST convocou toda a sociedade pela condenação de Adriano Chafik e em denuncia àquilo que vinha acontecendo – disse.

O então Ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto foi até Felisburgo e chegou a dar um emocionado depoimento:

– Trata-se de um crime absolutamente brutal e premeditado. Nesse momento, o governo federal e todas as nossas estruturas de segurança estão colaborando com as estruturas estaduais para responsabilizar os criminosos. A expectativa é que, em curto prazo, os responsáveis sejam identificados. Não há nenhuma hipótese de impunidade frente a casos como esse.

Os pistoleiros e Adriano Chafik foram presos logo após o ocorrido, quando o latifundiário confessou em depoimento ter participado do massacre. Mas poucos dias depois foram postos em liberdade.

– O Massacre de Felisburgo hoje motiva as famílias a fazer de forma mais qualificada e mais forte a luta, e ao mesmo tempo é um oportunidade para denunciar a falta de política de Reforma Agrária e a impunidade no campo. No período do julgamento, o MST se compromete a fazer a maior luta de sua história em Minas Gerais para condenar Adriano Chafik, desapropriar de fato a fazenda Nova Alegria e avançar na Reforma Agrária no Estado – conclui a dirigente regional do MST, Kely Gomes Soares.

Em nota, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lamentou a decisão do STJ.


Fonte: Noticias Brasil