As terras de Almenara já pertenceram ao Serro - a antiga Vila do Príncipe, elevada a cidade em 1838. Dela, surgiriam seis grandes municípios mineiros: Minas Novas; Diamantina; Montes Claros; Conceição do Mato Dentro; Guanhães e Rio Doce, antigamente Peçanha.

Em 1840, a primeira a emancipar-se foi Minas Novas, de onde se originaram 65 outros municípios mineiros, incluindo-se Araçuaí, Teófilo Otoni e Salinas.

Em meados do século dezenove, com a decadência da mineração do ouro no Alto Jequitinhonha, intensificou-se a migração em direção às regiões pouco habitadas, às margens do Rio Jequitinhonha.

Neste contexto, houve a chamada “colonização baiana”, entre 1890 a 1930. Junto com ela vieram as boiadas e os tipos exóticos de capins: capim-gordura, colonião e, mais recentemente, o braquiária e outros.

Com efeito, por volta de 1835, deu-se a fundação do antigo Arraial de Boa Vista do Calhau. Foi marco relevante deste processo de ocupação das terras do Médio-Baixo Jequitinhonha mineiro, assim como sua elevação a vila e cidade de Araçuaí em 1871. Na virada do século XX, era a capital do nordeste de Minas.

O município era composto por 10 distritos, que se estendiam ao longo do Rio Jequitinhonha, até o Salto Grande, hoje Salto da Divisa, inclindo Vigia (hoje Almenara). Para lá, havia a convergência de intenso comércio de mercadorias, face a sua localização estratégica, situada próxima à confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha.

Araçuaí era o ponto de encontro das canoas, que traziam os bens industrializados procedentes de Belmonte e retornavam com os produtos da lavoura, principalmente, o algodão e a carne de sol. Foi um dos maiores entrepostos comerciais de Minas Gerais. O comércio irradiava-se para outras localidades, alcançando Salinas e Minas Novas, através das tropas de animais.

Neste ambiente, São Miguel do Jequitinhonha desmembrou-se de Araçuaí, em 1911. O município assumiu o domínio das chamadas Matas do Jequitinhonha, que se estendiam, desde o distrito de São Pedro do Jequitinhonha, até o Salto Grande.

Retrocedendo no tempo, o surgimento do povoado de Vigia está ligado à implantação da 7ª Divisão Militar de São Miguel (hoje, Jequitinhonha) em 1811. Por determinação da coroa portuguesa e com a presença da Igreja Católica, sob o comando do Alferes Julião Fernandes Leão, essa guarnição militar promoveu a incorporação dos Botocudos e outras etnias indígenas, ao processo de implantação da agricultura de subsistência e pecuária bovina extensiva no Vale do Jequitinhonha.

Assim, São Miguel de Jequitinhonha foi o centro gerador do quartel de Vigia, situado à margem direita do Rio Jequitinhonha, e também dos quartéis de Água Branca (hoje Itinga); Salto Grande, (hoje Salto da Divisa) e Bonfim (hoje Joaíma), a par de alguns aldeamentos, a exemplo do emblemático Farrancho, que veio chamar-se Guarani.

Neste ambiente, emerge o povoado de Vigia, fundado por João Cabacinhas, em 1864. O marco inicial foi a construção de algumas palhoças à beira do Rio Jequitinhonha, dando conformação à antiga Rua dos Coqueiros, a mais antiga do lugar.

O povoado foi elevado a distrito de paz, com o nome de Vigia em 1887, ainda pertencente a Araçuaí. Em 1914, passa a chamar-se São João da Vigia em homenagem a seu padroeiro.

A campanha para sua emancipação política teve início em 1922, quando o Vereador Olindo de Miranda, ao examinar os balanços do Município de Jequitinhonha – percebendo a importância do distrito de São João da Vigia em termos de arrecadação de impostos, iniciou as articulações para sua emancipação política.

Em 1930, o movimento ganhou força com a fundação de “O Vigia”. Fundado pelo Jornalista Olindo de Miranda, foi o primeiro jornal que circulou no baixo Jequitinhonha mineiro, tendo reunido brilhantes cronistas em sua redação. “O Vigia” funcionou, sobretudo, como instrumento difusor da causa emancipacionista de São João da Vigia, tendo circulado até a morte de seu fundador em 1964.

Após longa e dura luta, que envolveu amplos segmentos da sociedade vigiense, e em pleno Estado Novo, o Município de Vigia foi criado a 13 de janeiro de 1938, composto pelos seguintes distritos: Sede, Pedra Grande, Bandeira, Palestina (atual Jordânia), como também Jacinto e Salto Grande.

Trazer estes acontecimentos de volta não é cultuar o passado. É tomar a História em nossas mãos. É fundamental, sobretudo, para as novas gerações, o resgate desse passado, que traz consigo valores éticos, essenciais à prática democrática e ao fortalecimento da cidadania.

Neste sentido, trata-se de um tema mais do que atual. Refiro-me à construção do futuro, que deve ser pautado por ações voltadas à conquista do progresso sócio econômico e cultural de Almenara e do Vale do Jequitinhonha.

Talvez alguns almenarenses ainda não tenham se dado conta do significado e etimologia da palavra “almenara”. O “al” denuncia a origem árabe, como alface; alfaiate, etc. É o artigo “o” ou ”a”. E aí, peço um pouco de paciência.

O linguista Houaiss, de origem árabe, nos esclarece. Vamos à palavra “minarete”:nas mesquitas, torre alta e fina, com três ou quatro andares e balcões salientes, de onde os muezins (religiosos) conclamam os muçulmanos às orações”... do árabe:man?ralugar onde há luz, farol, torre do farol, torre de onde os fiéis são chamados para a oração”...”almenara: doárabe:al-menara lugar onde está a luz, a lanterna, o farol”.

Sabe-se que a feliz sugestão deste nome tão sonoro partiu de Meira Matos. Por acaso, ele teria sido influenciado por algum imigrante do antigo distrito vigiense chamado de “Palestina”, hoje, cidade de Jordânia? Quem terá chamado atenção desse assessor do Governador Benedito Valadares para a sinonímia com “vigia” ou ”torre de vigia”? Um enigma. Mas, cabe a Almenara confirmar de onde mesmo vem a luz.