Economista  Evandro Miranda (*)

As articulações com vistas a  emancipação política de São João da Vigia iniciaram-se em 1922, quando o Vereador Olindo de Miranda tomou conhecimento de sua elevada participação na renda e arrecadação de impostos, após o exame dos balanços do município de Jequitinhonha.

Em 07 de setembro daquele ano, houve a implantação da estação telegráfica,  ocasião em que pioneiro médico Dr. Ponciano Sena manifestou sua admiração pelo fato de um centro como Vigia não passasse de um  simples distrito de paz. 

Em 1922, houve ainda uma reunião na casa de João Meireles, quando se formou uma comissão, composta por Agenor Pereira do Nascimento, Querubim Fróis Otoni e Anísio Gil, para colher os dados estatísticos a serem levados à Secretaria de Estado de Assuntos Municipais.

Outro marco foi a primeira edição, em junho de 1930, de “O Vigia” – o primeiro periódico que circulou no baixo Jequitinhonha mineiro. Este jornal se diferenciava dos demais por se constituir como instrumento da causa emancipacionista. Contou com diversos redatores, destacando-se o Padre Manoel Rodrigues do Prado na fase inicial, assim como José Cortes Duarte: autor de inúmeras crônicas ao longo da existência do jornal.

Em “O Vigia” (edição: 05/07/1930), a matéria de capa, de autoria de Dr. Ponciano Sena, destaca “até então temos vivido no regime da rolha, bradar em altos brados, clamar as nossas revoltas, por que meio?”, ainda, assinalando “só agora, graças a Olindo de Miranda, teremos o veículo indispensável para levar a todos recantos do estado nosso grito de liberdade!”

A luta pela emancipação foi longa e marcada por recuos e avanços. Dentre os avanços, houve a instalação da Coletoria Estadual, em 1936, quando se passou a cobrar os impostos da futura zona desmembrável.

Em 21/11/1937, houve o memorável comício, realizado no Largo da Matriz, que reuniu cerca de duas mil pessoas para exigir o desmembramento do município, quando foi feito um abaixo-assinado, levado ao Governador Benedito Valadares.

A causa ganhou apoio de amplos segmentos sociais. Na galeria dos emancipacionistas, figuram dentre outros cidadãos: Jornalista Olindo de Miranda, Cel. Deraldo de Brito Guimarães, Capitão Zeca Gomes, Agenor Nascimento, Dr. Benício Almeida, Anísio e Deusdeth Gil, Joel e Nathanael Mares, Antenor Sena, Belarmino Soares, Samuel Alves de Oliveira, Querubim Frois Otoni, Antônio de Castro Alves, João Gordo da Fonseca, Francisco Bicalho, Dr. Hélio Guimarães, Juca Miranda e as professoras Maria Cristina Ferraz da Silva, Olinda de Miranda e as irmãs Honorina (vulgo Gaduxa) e Angelina Nascimento.

Na noite anterior à promulgação do Decreto Lei 58, de 13/01/1938, a comunidade vigiense recebeu com regozijo o anúncio de sua emancipação política pela Rádio Inconfidência, a emissora oficial de Minas. 

O Município de Vigia foi instalado em 06/03/1938, composto pelos seguintes distritos: sede, Bandeira, Jacinto, Palestina (atual Jordânia), Pedra Grande, Rubim e Salto Grande.

O ato solene ocorreu na sede provisória da prefeitura (antiga Collectoria), onde foi empossado o Prefeito Benedito Barbosa Canabrava (1938-1940), nomeado pelo Governador Benedito Valadares, que foi representado pelo lendário Cel. Idalino Ribeiro: Chefe Político de Salinas.

Os festejos duraram dois dias. Dentre outros eventos, constam do Programma Commemorativo da Installação do Município de Vigia: i) Banquete no Grupo Escolar, seguido de  animado baile; ii) Collocação no Largo da Matriz da placa Praça Benedito Valadares; iii) Installação do Município, com a presença do representante do Governador, Prefeito, Juiz de Direito, Prefeitos e outras auctoridades de municípios vizinhos; e iv) Missa solenne, celebrada pelo Rev. Padre Delvino Motta na Matriz (em construcção); e v) Installação do Serviço Hydro-Electrico da Companhia Forca e Luz Vigiense.

Em 1943, Vigia tornou-se Almenara (farol), à semelhança de torre de vigilância: sugestão de Mário Matos, então, assessor do Governador Benedito Valadares. 

Nesta época, é criado o Fórum, com a nomeação de Dr. Henrique de Paula Ricardo (Juiz de Direito) e Dr. Américo Fonseca (Promotor de Justiça).

Emancipada em pleno Estado Novo, que vigorou até 29/10/1945, os prefeitos foram os seguintes: Benedito Barbosa Canabrava (1938-40); Acúrcio de Lucena Pereira (1940-45); Oscar de Castro / Dr. Henrique de Paula Ricardo / Querubim Frói Otoni (1945-47).

Desta forma, Almenara experimentou o primeiro concerto democrático em 23/11/1947, com a realização das primeiras eleições municipais, após a redemocratização do País, quando foram eleitos Dr. Hélio Guimarães (Prefeito: coligação UDN-PSD-PTB) e José de Miranda (Vice Prefeito: PR).

Ernesto Alves dos Santos (PSD) foi eleito Juiz de Paz, assim como os suplentes Osvaldo Moreira Coelho e Silvino Patente, ambos do PR.

O Poder Legislativo teve a seguinte composição: UDN (Mayrink Taranto Silva e Milton Carlos Otoni); PSD (Dr. Euvaldo Moreira e Pery Ruas Tupy); PTB (Honório Amarante); PR (Angelina Nascimento: a 1ª vereadora almenarense, Laurindo José da Silva, Deocleciano Ruas, Manoel José da Silva, Aureliano Cardoso de Sá e  Olindo de Miranda Sousa, tornando-se o 1º Presidente da Câmara Municipal no quadriênio 1947:51).

Após a promulgação da Constituição de 1946, os prefeitos foram os seguintes: Hélio Guimarães (1947-50) / (1967-71); José de Miranda (1950-51); Benício Almeida (1951-55); Cândido Mares (1955-59) / (1994-95); Edward de Souza Figueiredo (1959-63); Trazíbulo Ferraz Torres (1963-67); Fernando Amaral (1971-73); Exupério Cangussu (1973-77) / (1983-88) / (1995-96); Djalma Valença Fazendeiro (1977-83); Roberto Magno (1989-93); Chaue Chequer  (1997-2000); Manoel Francisco Alves Silva (2001-04); Carlos Novaes (2005-09) e  Fabiany Ferraz Gil – a primeira mulher a ocupar a chefia do executivo almenarense, a partir de 2009.

Ao trazer estes fatos ao conhecimento das novas gerações, a proposta é assegurar a preservação da cultura e História local. É fundamental para o alcance do verdadeiro progresso econômico e social, que está associado ao fortalecimento da cidadania.

(*) Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior (UNEB-DF). É Analista Financeiro do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados e ex Coordenador-Geral da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda.