O número de cidades em situação de emergência provocada por estiagem ou seca já é 28% maior neste ano, na comparação com igual período de 2017. Os dados são da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec/MG).

A situação mais crítica é no Norte de Minas, onde 78 localidades estão nessa condição. A Barragem de Juramento, principal fonte de abastecimento das comunidades, operava ontem com 27% da capacidade. Na sequência, aparecem o Vale do Jequitinhonha e Mucuri, com 20 municípios, e a região Central, com dois.

Em meio à crise hídrica, prefeituras lançam mão de medidas paliativas, como a perfuração de poços artesianos e distribuição do recurso natural em caminhões-pipa. Em oito cidades, o sistema de racionamento já foi adotado pela Copasa.

Abastecimento

Em alguns casos, como em Pedra Azul, no Jequitinhonha com 23 mil habitantes, chuvas significativas não são registradas há um ano. “Temos feito o racionamento há três meses. Um dia, cortamos a água em um bairro. Em outro, já são quatro bairros durante a manhã e à tarde”, diz Layane Almeida Ramos, chefe de Inspeção de Parques e Jardins da Secretaria Municipal de Obras.

No mesmo período do ano passado, 78 cidades estavam em emergência por estiagem ou seca

Sem registro de precipitações há seis meses, moradores de Januária, no Norte, também enfrentam dificuldades. Segundo o prefeito Marcelo Félix, quatro caminhões-pipa são utilizados diariamente no município, que tem mais de 65 mil habitantes. Porém, ele diz ser insuficiente. “A situação está muito grave. Estamos furando poços para levar água a muitas comunidades”.

Sem garantia

Medida também utilizada em outras cidades, a perfuração de poços artesianos já não é garantia de solução dos problemas em Francisco Sá, também na região Norte. “Há seis anos, o volume de chuva é bem abaixo da média e, agora, alguns dos poços que existem secaram”, lamentou Jorge Luis de Almeida, secretário de Defesa Civil do município com quase 65 mil moradores. 

Responsável por abastecer a cidade, a Barragem de São Domingos opera com 25% da capacidade. “Ela recebe a água do rio São Domingos que está praticamente seco”, diz Almeida.

Racionamento e obras

A Copasa informou que o período de estiagem resultou na redução do nível de diversos mananciais, fator que afeta unidades de produção e distribuição de água. Obras estão sendo executadas no Norte do Estado pela companhia para amenizar a crise. 

Em Montes Claros, a captação do rio Pacuí está na fase de testes para iniciar operação. “A estrutura prevê dois quilômetros de adutora de água bruta, captada no rio, até uma Estação de Tratamento de Água, de onde será encaminhada para o reservatório de distribuição em Montes Claros, por meio de 54 quilômetros de redes”, disse a empresa.

Já a Cedec informou que há um grupo especial para enfrentar a falta de água em Minas. Em nota, o órgão garante que o governo do Estado auxilia os municípios por meio da contratação de caminhões-pipas, distribuição de ajuda humanitária e suporte técnico para o preenchimento da documentação pertinente ao decreto. Segundo a pasta, são 24 cidades atendidas pelos veículos e 11 solicitações em análise. Sessenta e três localidades contam com ajuda humanitária.

Controle

Apesar dos números e dramas relatados, o coordenador do Departamento de Defesa Civil da Associação dos Municípios da Área Mineira da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Sérgio Nassau, diz que a situação hídrica, neste ano, está melhor do que em 2017. “Mesmo tendo que usar caminhões-pipas nas áreas rurais, o que é rotineiro, a situação pode ser classificada como de controle”.

Além Disso

Pesquisadora da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a doutora em ciências florestais Maria das Dores Magalhães explica que o uso incorreto das áreas de nascentes de rios e florestas acentua a crise hídrica na região Norte.

“O homem está ocupando um espaço que era das plantas, seja para a moradia ou agricultura. Assim, as nascentes secam, e o solo fica descoberto. É preciso mapear as nascentes para verificar soluções aos rios, que desaparecem também porque a chuva, com o piso do gado no solo, por exemplo, passa a desassorear a superfície em vez de penetrá-la”.