A cada ano, cerca de 225 mil pessoas morrem de câncer no Brasil, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ainda de acordo com a instituição, o número de vítimas fatais dessa doença aumentou 31% desde o ano 2000. Já números do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam que apenas em Minas Gerais são esperados pouco mais de 29 mil novos casos por ano. 

Formado por 51 municípios, o Vale do Jequitinhonha apresenta dificuldades para diagnosticar casos nas primeiras fases da doença, o que possibilita maiores chances de cura, além de políticas voltadas à prevenção. Em função disso, a Oncomed-BH analisa a viabilidade de construir um centro avançado de atenção em oncologia para a região. 

Como se encontra a situação do câncer no Estado de Minas Gerais? A incidência da doença vem aumentando a cada ano, assim como a mortalidade. Há grandes falhas, tanto na saúde pública quanto na saúde suplementar, com respeito a ações de prevenção primária, secundária e terciária. Considerando que de 30% a 50% dos tumores que acometem os seres humanos podem ser evitados, é inadmissível que nós, agentes de saúde, não nos esforcemos para realizar uma profunda mudança no modelo assistencial. O Estado possui centros de excelência em tratamento, porém, infelizmente, o acesso não é universal. A atenção à saúde em oncologia em Minas Gerais é um reflexo da situação socioeconômica e da saúde como um todo em nosso país.

De acordo com o Inca, são esperados, em toda a Minas Gerais, pouco mais de 29 mil casos a cada ano. O senhor acredita que muitos deles possam ocorrer na área nordeste do Estado? Por quê? A pedido da Associação Capelinhense de Apoio aos Portadores de Câncer (ACPAC) do Vale do Jequitinhonha, temos realizado um estudo sobre a situação da incidência e da mortalidade pela doença na região. Até o momento, temos nos deparado com informações que demonstram acentuada fragilidade em todos os níveis de atenção, como ausência de ações programáticas em atenção primária e secundária, dificuldade de acesso aos serviços de saúde evidenciados pelo percentual elevado de casos avançados ao diagnóstico e tempo inaceitável para o início do tratamento.

Quais são os principais tipos de câncer que mais atingem a população dessa região? Os dados levantados até o momento possivelmente não refletem a realidade, pois seguramente são subnotificados. Não há notificação compulsória da doença na região. Nos chama atenção, porém, a elevada incidência de tumores do esôfago e do estômago.

Como trabalhar a prevenção primária e secundária para que se possa diminuir o número de casos? O poder público da região precisa ser sensibilizado para a gravidade da situação, que tem trazido sofrimento e desperdício de recursos em todos os níveis. Entramos em contato com um diretor do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems-MG) quando discutimos a realização de um evento com a participação dos secretários municipais de Saúde da região (organizada pela ACPAC, para não haver “politização” do processo). A partir de agora, serão discutidas as medidas necessárias para implementação de um amplo programa de prevenção primária e secundária da doença, como campanhas informativas para a população.

Como a Oncomed-BH pode contribuir no atendimento das pessoas que moram nessa região? Estamos elaborando um manual de prevenção (primária, secundária, terciária e quaternária) a ser oferecido, sem custo, para a região do Vale do Jequitinhonha por meio da ACPAC. Estaremos, a partir de agora, assessorando a entidade no que for necessário para a captação das informações relativas à incidência da doença, suas causas e implementação de medidas que visem a seu controle. Efetivamos, também, a criação de uma equipe que analisa a viabilidade da construção de um centro avançado de atenção em oncologia para a região.

O que é preciso para viabilizar a construção desse centro? Planejamento, sendo que este deve partir de informações fidedignas sobre a incidência e a mortalidade relacionadas à doença na região. A luta contra o câncer, na atenção terciária, é complexa e cara. É uma doença que deve ser combatida por meio de uma equipe multidisciplinar (oncologista, radioterapeuta, cirurgião, patologista, enfermagem especializada, nutricionista, psicólogo e assistente social) para que se obtenham níveis de excelência na atenção à saúde dos pacientes. Os recursos materiais e técnicos necessários estão relacionados à aparelhagem para métodos propedêuticos de diagnóstico e acompanhamento e tratamento, incluindo aparelho de radioterapia, área hospitalar com unidade de tratamento intensivo, entre outros. A ação, neste primeiro momento, está focada em um amplo programa de prevenção.