O rapaz foi levado para São Paulo, onde permaneceu por um ano em tratamento. Lá, passou por cirurgia e teve a perna esquerda parcialmente amputada para a retirada do tumor, localizado na tíbia.

As dificuldades não tiraram o ânimo de Renan para os estudos e na semana passada, o estudante – que se recuperou, mas ainda é submetido a avaliação médica periódica – teve o seu nome aprovado para o concorrido curso de Medicina da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

E fez bonito. A aprovação se deu por meio do Programa de Avaliação Seriada (Paes) da Unimontes, cujo resultado foi divulgado na quarta-feira. Renan foi o quarto colocado na classificação-geral dos candidatos do sistema de reservas de vagas da instituição, sendo que concorreu às vagas para deficientes.

O futuro médico revela que o próprio processo de tratamento do câncer contribuiu para que escolhesse a profissão. “Quando estava em fase de tratamento, percebi como era decisivo o papel de um médico na vida de um paciente. Com isso, tive vontade de cuidar das pessoas, assim como fui cuidado”, afirma. “Decidi que com a minha experiência poderia fazer uma grande diferença em seguir nesse caminho, atuando com esse papel”, disse.

Renan foi encaminhado para o tratamento e cirurgia no hospital do Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer (GRAACC), de São Paulo, um dos maiores centros especializados no tratamento do câncer infantil na América Latina, cujo custo é bancado, na maior parte, por doações. Conveniada com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a unidade presta atendimento gratuito, sendo também vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Após a cirurgia e o término das sessões de quimioterapia, Renan voltou ao Norte de Minas há quase dois anos. No entanto, a cada 40 dias, se desloca até a capital paulista, para exames e acompanhamento médico do processo de recuperação.

A família do estudante mora em Montes Claros. Mas, os pais dele são comerciantes e trabalham em Mirabela, na mesma região, a 72 quilômetros de distância, onde administram um supermercado. O pai de Renan, Paulo Mota Afonso, relata que, além de ser muito estudioso, o filho sempre gostou de praticar esportes. Gostava de futebol e de artes marciais – judô, karatê e jiu-jitsu –.

Ainda segundo o comerciante, o adolescente encarou bem a doença e jamais reclamou das limitações que passou a enfrentar depois da amputação parcial da perna. A limitação é amenizada com uma prótese, que ele usa há dois anos.

A mãe do calouro de medicina, Rosemay Gonçalves Mota Afonso, destaca que Renan sempre foi focado nos estudos. Ela conta que, pouco depois de completar 14 anos, o filho começou a reclamar de uma dor na perna esquerda, “que não melhorava”.

A comerciante também relata que o filho é marcado pela fé, o que, acredita, contribuiu no tratamento. “Quando terminaram as sessões de quimioterapia, em São Paulo, e os médicos informaram que os resultados dos exames foram satisfatórios e que meu filho estava liberado para voltar às atividades normais, ele disse que queria ir ao Santuário de Aparecida (SP) para agradecer pelo tratamento. O pedido foi atendido”, lembra Rosemary.

Aulas em hospital

Durante o período do tratamento em São Paulo, Renan continuou os estudos. Para isso, foi atendido pelo projeto “Escola Móvel”, do GRAACC. A iniciativa permite que crianças e adolescentes em quimioterapia e outras formas de tratamento do câncer assistam às aulas do ensino regular dentro do próprio hospital.

“Desde o primeiro dia que estive em São Paulo na investigação do meu problema, eu estava preocupado com o vestibular, pois estava no primeiro ano do ensino médio, no ano em que o aluno começa a fazer as provas do Paes da Unimontes”, lembra Renan.

Agora, o sonho dele é se especializar em ortopedia. “Meu sentimento é de realização, com a certeza de que, com determinação e persistência, é possível alcançar nossos objetivos”, afirma o estudante ao comentar o próprio exemplo de superação.