Hoje, trago ao leitores desta coluna um painel sobre Coronel Murta, que é sede de um município com população de cerca de 9.500 habitantes. Dista cerca de 30 quilômetros de Araçuaí – o principal polo do médio Jequitinhonha.

Em 1908, com o nome Boa Vista do Jequitinhonha, a arraial foi fundado pelo Coronel Inácio Carlos Moreira Murta – o proprietário daquelas terras no entorno do lugar, que foram habitadas pelos Tocoiós em tempos mais remotos.

Em 1948, o arraial de Boa Vista foi elevado a Distrito de Itaporé – significa cachoeira da pedra na língua dos povos indígenas. Foi desmembrado do Município de Virgem da Lapa (antiga São Domingos) em 1953, quando passou a chamar-se Coronel Murta - uma homenagem ao fundador. 

A vegetação do município e de resto do médio Jequitinhonha caracteriza-se pela presença dos biomas Caatinga nas terras baixas, assim como do Cerrado nas áreas altas de chapadas. 

Ao longo do tempo, essas terras foram sendo ocupadas pela pecuária bovina. Soma-se a presença da mineração, que é uma atividade econômica tradicional do médio Jequitinhonha.

Coronel Murta fica a jusante de Irapé – a barragem mais alta do país, com 322 metros de altura, que resultou na inundação de um cânion profundo e de difícil acesso do Rio Jequitinhonha.

Situa-se ainda logo abaixo da confluência do Rio Jequitinhonha com um dos principais tributários à margem esquerda – o Rio Salinas, cujas nascentes se encontram acima da cidade do mesmo nome, que tornou-se conhecida como a capital mundial da cachaça, da qual Coronel Murta dista 67 quilômetros.

O sítio urbano do lugar fica à beira do Rio Jequitinhonha, ao lado de uma de suas várias praias fluviais. Ao largo dela, avista-se a Serra do Elefante e o Morro do Frade – os guardiões naturais de Coronel Murta, que merece entrar nas rotas turísticas do Vale do Jequitinhonha, em face de sua beleza e singularidade.

Para tanto, é preciso que saia do papel o asfaltamento dos 41 quilômetros da rodovia estadual, entre Virgem da Lapa-Lalivéldia-Ijicatu (MGC 367, MG 114 e LMG677), que passa ao largo da Represa de Irapé.

Este trecho de estrada faz parte do caminho natural, que liga o médio e baixo Jequitinhonha à capital do Estado de Minas Gerais. Portanto, o asfaltamento dele é essencial para assegurar o adequado acesso a Coronel Murta, assim como às demais cidades do médio e baixo Jequitinhonha.

Soma-se a isto o asfaltamento de outros dois trechos da BR 367 – a rodovia de integração regional, que liga as nascentes (Diamantina) à foz do Rio Jequitinhonha (Belmonte) –, entre Minas Novas-Virgem da Lapa (91 km.) e Almenara-Jacinto (50 km.), o que viria remover o principal gargalo, que impossibilita o alcance do progresso econômico e social desta esquecida e vasta região de Minas. 

O rompimento deste entrave, que perdura há mais de 60 anos, é o caminho para a região romper com o estigma de vale da miséria, que não combina com o Vale do Jequitinhonha – tão rico em termos culturais e belezas naturais.

(*) Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior pela UNEB-DF. É Analista Financeiro do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados e ex-Coordenador Geral da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda.