JOÃO RENATO FARIA

Em um local carente como o Vale do Jequitinhonha, a dificuldade de acesso provocada pelo mau estado de conservação das BRs 367 e 251 é apontada por moradores e lideranças como o mais perverso dos desafios enfrentados na região. O problema atinge não só o comércio das cidades, mas também impede o deslocamento de estudantes e dificulta o atendimento médico. Existem trechos que, por serem de terra ou por terem buracos, são quase impossíveis de ser vencidos por uma ambulância, causando um prejuízo difícil de ser medido financeiramente, mas definitivamente muito sentido por uma população predominantemente pobre.

Presidente da Associação Comercial de Araçuaí, Elzita de Souza diz que os supermercados da região têm dificuldades em repor suas mercadorias. “O fluxo de produtos está comprometido, as lojas estão com problemas para reposições. Como somos uma cidade-polo, muita gente que é da região e fazia compras aqui não vem mais. Então, o comércio está perdendo tanto pelo comprador, que não chega até aqui, quanto pelos produtos que acabam faltando”, detalha.

Já o secretário municipal de Administração e Planejamento de Almenara, José Rodrigues, destaca que o município está ilhado, pois é – ou deveria ser – atendido pelas duas rodovias. Segundo ele, as duas principais atividades econômicas da região, o gado de corte e a extração de granito, estão praticamente paralisadas, já que não existe como escoar a produção. “A cada cem cabeças de gado, estamos perdendo 30, que morrem na estrada por conta de dificuldades no transporte. E os caminhões não estão conseguindo trafegar com o granito, que é o segundo principal produto do vale, mas é muito pesado, e, por isso, a carga não consegue passar pelas estradas ou pelas pontes de madeira. Está muito difícil”, lamenta.

Saúde. Os doentes das cidades ao longo das duas rodovias não sabem o que é pior: passar pela enfermidade ou encarar a viagem para serrem atendidos. A situação revolta a gestora do hospital São Vicente de Paulo de Araçuaí, Maristane Alves. Formada há 21 anos em enfermagem, ela fez questão de voltar para o Vale do Jequitinhonha para ajudar seus conterrâneos, mas constantemente vê seu esforço ser consumido pela rodovia.

“A situação é muito grave e desumana, chega a ser primitiva. Constantemente, quando temos que transferir um paciente para Diamantina, que é a referência, ele chega ao destino pior do que saiu por conta da situação da estrada”, relata.

Maristane aponta que, além da ambulância balançar demais, ela corre o risco de ter um problema mecânico e deixar o doente ilhado no meio da estrada. Por conta disso, não é raro que um caso mais grave seja tratado no próprio hospital. “Nossa estrutura atende casos de até média complexidade, mas alguns, de pacientes mais complicados, têm que ser resolvidos aqui mesmo, pois não sabemos o que vai acontecer na rodovia”, finaliza.

Morte

Batida. O acidente com morte mais recente na BR–367 foi no último dia 10, entre Araçuaí e Itinga, quando o motociclista Alisson de Oliveira Soares, 30, e seu pai, João Batista Soares, 55, que ia na garupa, foram atingidos por uma caminhonete e morreram. 

Motivo. Os dois tentavam desviar de buracos na pista e, por isso, trafegavam em baixa velocidade. A batida ocorreu durante uma freada da motocicleta.