O Rio Jequitinhonha, após percorrer considerável trecho numa calha de cerca 200 metros, de repente, estreita-se entre as montanhas, passando a correr num canal curto e profundo, com largura de uns 20 metros. 

Trata-se do chamado Estreito de Teixeira (vide fotos feitas por mim em novembro de 2015), que fica logo abaixo da desembocadura do Ribeirão São João, a jusante de Itaobim (antiga São Roque). 

As correntezas, sobretudo por ocasião das enchentes, constituíam-se obstáculo difícil e perigoso, que os canoeiros enfrentavam para romper as embarcações rio acima. 
Contextualizando esse acidente geográfico, esclareço que, entre 1890 e 1930, em pleno ciclo do cacau, as canoas faziam a ligação entre Belmonte (junto a foz do Rio Jequitinhonha) e a Vila de Araçuaí. 

Esta ultima, que fica no Médio Jequitinhonha, era a capital do nordeste mineiro e também um dos três maiores entrepostos comerciais do estado naqueles tempos. Nas proximidades dela, no Pontal (atual Itira), há o lendário encontro das águas do Rio Jequitinhonha com seu principal tributário (o Rio Araçuaí). 

Daí em diante, o volume das águas do primeiro cresce de modo considerável, o que o tornava navegável no passado. Assim, desenvolveu-se um sistema de transportes de cargas e passageiros, que se ligava às tropas de animais, alcançando amplo raio de influência, incluindo Minas Novas, Salinas e outras localidades. 
Ao resgatar esses fatos, faço-o não por nostalgia, mas com o intuito de contribuir, de alguma forma, para a ampliação do conhecimento das novas gerações acerca do Rio Jequitinhonha, que está clamando por cuidados, já, há algum tempo.

O momento é oportuno para este alerta, que me permito fazer à sociedade civil do Vale do Jequitinhonha, em face da realização da Conferência do Clima da ONU (COP 21), que ora transcorre em Paris, com a participação de delegações, assim como de chefes de estado de quase todas as nações do mundo. 
Refiro-me à imperiosa necessidade de preservação dos mananciais do Rio Jequitinhonha, incluindo seus afluentes - as fontes de vida e riqueza de uma vasta região, que engloba espaços territoriais de duas unidades federativas. 

De fato, o lendário rio, que nasce na Serra da Pedra Redonda (integrante do Maciço do Espinhaço: a única cordilheira brasileira), no Município do Serro (a antiga Vila do Príncipe), desenvolve uma trajetória de quase 1.100 quilômetros, após percorrer vários municípios do nordeste de Minas e sul da Bahia. 

Ao finalizar a longa e difícil jornada, o Rio Grande (tal como o Jequitinhonha era referido pelos antigos), com a força de suas águas barrentas, turva o Oceano Atlântico, que é chamado de Mar Vermelho nas cercanias de sua foz em delta: o primeiro cenário do descobrimento do Brasil.