Preso por suspeita de pedofilia e tentativa de homicídio, o empresário Antônio Eustáquio Rodrigues, de 64 anos, conhecido como o "rei da cachaça", foi transferido do presídio de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, onde cumpria prisão preventiva, para o presídio de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri.

 

A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), que informou que a transferência é um procedimento rotineiro no sistema prisional.

 

 

Rodrigues é dono das marcas de cachaça Seleta, Saliboa e Boazinha, e foi preso no dia 12 de agosto, suspeito de abusar de um menino de 14 anos e de uma menina de 15, e de tentar matar um homem de 18.

 

 

Após a prisão de Rodrigues, um adolescente de 13 anos procurou a delegacia de Salinas, no Norte de Minas, para fazer uma nova denúncia de abuso sexual contra o “rei da cachaça”. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

 

 

Os advogados do empresário não foram localizados para comentar o assunto.

O reinado de Toni, como de fato é conhecido, impressiona. Dono das marcas Seleta, Saliboa e Boazinha, ele começou a trabalhar no ramo aos 27 anos, por influência do sogro, dono de uma fábrica da bebida.
 
 
 
A produção própria só começou em sua fazenda depois de dez anos. O motivo para entrar no ramo era simples: "Eu sempre gostei de ganhar dinheiro".
 
 
 
Hoje, Toni produz cerca de 1,3 milhão de litros por ano e exporta para países como EUA e China. Mas o que realmente chama atenção é sua figura exótica.
 
 
 
A grande e grisalha cabeleira, que o acompanhava foi cortada junto com a barba, após a prisão.
 
 
 
Toni tem três guarda-roupas e três sapateiras. "Uso uma roupa por no máximo três horas e tomo de seis a oito banhos por dia", diz.
 
 
 
Por baixo do chapéu Marcatto, de R$ 77 --ele não tira as etiquetas das roupas--, Toni leva um galho de arruda atrás da orelha.
 
 
 
Orgulhoso proprietário de 500 pés da planta, garante que não usa a erva para espantar o mau-olhado. "Eu finjo ser supersticioso", conta. "Faço isso para chamar a atenção." Mas não gosta de maldizer a sorte. "É melhor ter sorte que ser filho de pai rico", diz. "E eu tenho."
 
 
 
Em sua casa na cidade, conta com a companhia de uma simpática cabra, de nome Arapuca, e o visitante ainda pode tomar um susto com Catarina, uma jiboia de seis metros que rasteja placidamente pelos aposentos. A cabra e a cobra, garante Toni, são amigas.
 
 
 
 
 
FAVOR NÃO BATER NO PORTÃO
 
 
 
 
Surpreendentemente simples para o dono de uma empresa que fatura "bem mais de 10 milhões por ano" (a política da companhia é não divulgar números), a casa de Toni não recebe estranhos de portas abertas.
 
 
 
Em cima de um muro amarelo, uma coleção de carrancas sugere uma recepção pouco calorosa. Na porta, um aviso afixado passa o recado mais diretamente: "Patrocínio já era, doações também. Favor não bater no portão".
 
 
 
Dentro do imóvel, fotos ampliadas dos seus seis filhos e cinco netos dividem as paredes com frases de autoajuda e piadas, impressas em folhas de papel sulfite e coladas com fita adesiva.
 
 
 
Quando passeia pela cidade,  ri alto, exibindo um buraco recente (fruto de um acidente gastronômico que lhe vitimou um pivô) e 25 dentes de ouro. "Tenho uma boca rica", brinca.
 
 
 
E, se depender dele, ela tem tudo para ficar mais rica ainda. "Não ganhei dinheiro o suficiente", resmunga o cachaceiro.
 
 
"Mas estou mexendo com um segundo negócio muito promissor, que é uma lavra de pedras preciosas, de turmalina rosa", conta.
 
 
"Dentro de cinco anos, vou ganhar R$ 500 bilhões", prospecta, muito otimista (o quilate da pedra, em sua variedade mais valiosa, vale R$ 617. Para efeito de comparação, o preço do quilate de esmeralda mais valioso é 20 vezes maior).
 
 
Agora os sonhos do " Rei da Cachaça" começam a virar pesadelos.
 
 
 
De acordo com o delegado que acompanha o caso, surgiram outras denúncias de abuso sexual contra o empresário.
 
 
 
O caso corre em segredo de justiça por envolver menores.
 
 
A Seleta divulgou nota afirmando que Toni Rodrigues está afastado do comando da empresa para cuidar da saúde e que espera que a Justiça faça as investigações com independência.