Covardia e barbaridade. Dois rapazes mataram a facadas Gabryella Oliveira Bonfim Sampaio, 24 anos, depois de a estuprarem, na noite de segunda-feira, no bairro Novo México, Vila Velha. Eles gravaram com o celular toda a violência sexual e enviaram o vídeo para a mãe da vítima, antes de matá-la. Gabryella era mãe de três filhos.

A jovem foi assassinada com seis facadas no pescoço. Os criminosos ainda colocaram um celular dentro da boca da vítima e cortaram os cabelos dela. “No Departamento Médico Legal (DML), uma faca foi encontrada na vagina da jovem. Foi um crime marcado por crueldade“, destacou o delegado Adroaldo Lopes, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM).
Os acusados do crime são o namorado de Gabryella, Thiago Rosa do Sacramento, 25, e o amigo dele, Lucas Manhães Brício, 19. Ambos foram presos, no final da tarde de ontem, em Guaranhus, Vila Velha, pelos policiais da DHPM. Na delegacia, os dois confessaram o crime, segundo o delegado.

O casal assistiu ao jogo de Brasil X Camarões em uma casa de shows em Vila Velha e, por volta das 20h, deixou o local junto, seguindo para a casa onde Thiago morava. Antes de violentar a namorada, junto com Lucas, Thiago ligou para a mãe de Gabryella dizendo que iria estuprar e matar a jovem. E foi o que fez.

A tortura e a violência sexual contra Gabryella foi filmada pela dupla. O vídeo da barbárie foi enviado às 22h53 para a mãe de Gabryella, a doméstica Neize Oliveira Bonfim, 43, que era contra o namoro da filha. A polícia investiga se o vídeo foi enviado antes da vítima ser morta.

Neize não conseguiu visualizar o registro durante a noite, mas ficou preocupada e passou a ligar para Gabryella na tentativa de falar com a filha, mas todas as chamadas caíam na caixa postal. Namoro tumultuado

A família da jovem era contra o relacionamento do casal, que convivia há 8 meses juntos. O motivo, segundo parentes, Thiago é ex-presidiário e usuário de drogas. Além disso, ele tinha ciúmes da vítima e havia agredido Gabryella no jogo do Brasil contra o México, depois que ela saiu com amigas.
Somente no início da manhã de ontem, a mãe conseguiu visualizar o vídeo. Chocada, ela se deu conta de que não se tratava de mais uma briga do casal, entre tantas que já haviam acontecido entre Gabryella e Thiago.

“No vídeo, ele violentava a minha filha e ela só gritava, pedindo para parar. Liguei para a polícia e fui até a casa. Eu cheguei primeiro e percebi que havia uma pessoa lá dentro”, lembrou Neize.

Quando entrou na casa, a polícia encontrou Gabryella morta, caída no chão, ensanguentada e vestindo apenas uma camiseta da Argentina.
 
Avó de acusado confirma que o neto é agressivo
 
Além de ter uma relação conturbada com Gabryella, Thiago também não tinha um bom relacionamento com a própria família. A avó dele, a pensionista Terezinha França Dias, 70, que é proprietária da casa onde a jovem foi assassinada, contou que o rapaz sempre foi agressivo com os familiares, e que eles tiveram até que sair da casa onde moravam por causa do comportamento dele.

“A família toda morava na casa. Mas por causa dele, todo mundo saiu, há uns sete meses. O local estava fechado, pois ele saiu dela também, mas voltou há uns quatro dias e invadiu a casa”, contou Terezinha.

A pensionista ressaltou que Thiago era agressivo principalmente por causa do uso de drogas. Ela confirmou que ele e Gabryella tinham um relacionamento muito tumultuado. “Os dois viviam brigando... um tinha ciúmes do outro e eram agressivos. Um dia eu cheguei em casa e vi a porta da sala com marcas de socos. Foi durante uma briga deles”, lembrou.

Terezinha acredita que o neto tenha assassinado Gabryella, e que quer que ele pague pelo que fez. “Acho que ele tem que pagar pelo que fez”, conclui. Foi a avó de Thiago quem abriu a porta da casa onde a jovem foi encontrada morta. A mãe de Gabryella chamou a PM, no início da manhã, depois que descobriu onde era a casa do namorado da filha.
 
Entrevista
 
 
"Quero que ele morra" - Neize Oliveira Bonfim, 43 anos, mãe de Gabryella
 
O que passou pela sua cabeça quando ele ligou?
Pensei no pior. Fiquei desesperada e tentei ligar para a minha filha, mas ninguém atendeu. Também tentei abrir o vídeo, mas não consegui. Ia passar na delegacia hoje (terça) para contar o que havia acontecido.
 
E quando viu o vídeo, qual foi a sua reação?
Fiquei desesperada e acionei a polícia. Imaginei o pior.
 
Como era a Gabryella?
Ela era o meu xodó. Era tranquila, carinhosa. Tinha três filhos, dois meninos, de 9 e 5 anos, e uma menina de dois, e morava sozinha com eles em Ponta da Fruta. Ela tinha o sonho de tirar a carteira de motorista.
 
Há quanto tempo ela namorava o Thiago?
Há uns cinco meses. Mas desde o começo a gente era contra esse namoro. Ele é ex-presidiário e usuário de drogas. Que mãe quer ver a filha namorando alguém assim? Ele também era violento... tinha ciúmes dela. Eu dizia para ela sair fora, que ele iria acabar matando ela.
 
Ela já havia se envolvido em crimes também?
Pelo que sei, não. Ela nunca foi presa, mas não sei se já usou drogas... depois que os filhos crescem, os pais não têm mais controle.
 
Ela já havia sido agredida por ele?
Já. Na terça-feira passada ele bateu nela na rua, porque ela saiu para ver o jogo do Brasil sozinha. Queria ir com ela na delegacia, mas ela não quis prestar queixa.
 
Acha que ela foi morta por ciúmes?
Sim. Ele agiu com covardia e crueldade. O que quer que aconteça com o Thiago? O mesmo que aconteceu com a minha filha. Não espero justiça, quero que ele morra.
 
O que diria para ele?
Que eu odeio ele, sempre odiei. E agora, como vai ser daqui para frente? Não sei. Vou cuidar dos meus netos.
 
Polícia investiga se houve traição

Com base nas características do modo como foi praticado o assassinato de Gabryella, a polícia acredita que a motivação do crime pode ter sido vingança por causa de uma possível traição da moça.

“A violência sexual, a crueldade como foi praticado, o celular na boca e pelo diálogo do namorado na gravação indicam isso. Porém, ainda precisamos ouvir os suspeitos para que possamos definir toda a dinâmica da morte e a motivação do crime”, destacou o delegado Adroaldo Lopes.

O vídeo enviado para a mãe de Gabryella foi analisado em detalhes pela Polícia Civil durante toda terça-feira. Nele, Thiago e o amigo Lucas registram a tortura e o abuso contra a jovem. “Trabalhamos com a hipótese do crime ter sido premeditado, pois o casal estava, aparentemente, bem durante o jogo, segundo testemunhas e pelo fato de Thiago ter chamado o amigo. Além disso, a ligação com ameaças para a mãe da vítima e a gravação do estupro apontam para que essa premeditação”, destacou o titular da DHPM.

Depois do crime, um dos suspeitos passou a noite no quarto ao lado onde Gabryella foi morta. Testemunhas contaram que uma pessoa foi vista correndo pelo quintal e pulando o muro da residência em Novo México, onde a moça foi morta, assim que a Polícia Militar chegou ao local. Porém, ainda não foi possível definir se foi Thiago ou Lucas quem passou a noite no cômodo ao lado do corpo.

Ainda dentro das investigações do caso, a polícia vai periciar o celular de Gabryella, que foi encontrado dentro da boca da vítima.