Moradores da região central de Coronel Murta, no Vale do Jequitinhonha (MG) realizaram na manhã desta sexta-feira (22) um protesto em frente à Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da cidade, cuja laje do reator que faz o tratamento dos dejetos se rompeu na última quarta-feira (19) causando transtornos no serviço. 

Durante o protesto, o vereador Douglas Aguilar Bittencourt, que liderou o movimento, chegou a ser detido e levado para o destacamento policial, após invadir a área reservada da ETE e fazer um vídeo mostrando o despejo de esgotos in natura no rio. Foi feito o registro da ocorrência e na sequência, o vereador foi liberado. 

O protesto contou com a presença de cerca de 60 moradores e 4 vereadores. A prefeita do município não compareceu à manifestação. A Copasa informou que vai abrir licitação para contratar uma empresa para fazer os reparos na laje. 

Desde que a ETE foi inaugurada, há aproximadamente 15 anos, que o mau cheiro incomoda quem reside na região. 

Outros protestos já foram organizados no local e, conforme os moradores, o problema é resolvido por alguns dias, mas depois sempre volta a acontecer. “Já fizemos abaixo assinado, mas não resolveu nada”, lembra Núbia Rodrigues, 31 anos, proprietária de uma pequena mercearia localizada ao lado da ETE. 

Os moradores estão revoltados e dizem não suportar conviver diariamente com o mau cheiro. “Você vai tomar café da manhã e sente aquele cheiro horrível e já não fica muito bem. Aí saí para o trabalho e volta no almoço e a mesma coisa. À noite, nem se fala, você perde o apetite”, conta Núbia Rodrigues, 31 anos, moradora do lugar. 

— Na hora do almoço temos que trancar as janelas de casa, é um cheiro insuportável durante todo o dia — afirmam.  “Tem dia que os urubus entram dentro das nossas casas”, relatou Ana Rosa Jardim de 59 anos. 

A situação ocasiona inúmeros transtornos aos habitantes que querem a retirada da ETE da região. Além do desconforto, alguns moradores relataram que sentem dores de cabeça e náuseas nos dias em que o mau cheiro está mais evidente. – É um sofrimento. Não nos alimentamos nem dormimos direito. Temos vergonha de receber visitas”, lamentou Maria Augusta da Mota, de 63 anos. 

A situação já foi discutida durante audiência pública em dezembro de 2017 na Câmara Municipal com representantes da Copasa, conforme informação do vereador Ailton Jardim, atual presidente da Câmara.. 

— Nós pagamos uma taxa alta para que este esgoto seja tratado corretamente e não para gerar transtorno à população — reclamou o vereador Douglas Bittencourt Murta. 

Ele acredita que o esgoto sanitário não é tratado da forma adequada e que os dejetos in natura estão sendo despejados no Rio Jequitinhonha, que fica a poucos metros da ETE. Segundo ele, além do mau cheiro, os moradores também reclamam que a bomba de captação de água que serve à população está abaixo do local onde são despejados os esgotos. “É um pecado ecológico”, salientou o padre Carlos Badaró, que esteve no local. 

O vereador Douglas Murta, ressalta que a situação se arrasta há tempos. “Durante a audiência pública fizemos o pedido para mudar a bomba de lugar e ficou acertado que o problema seria resolvido, mas até hoje nada”, acrescentou o presidente da Câmara Ailton Jardim. 

— É injusto porque nós pagamos em dia a taxa para que o tratamento correto seja feito. Procuramos todos os órgãos responsáveis durante esses cinco anos, mas até agora nada foi feito para resolver a queixa dos moradores- destacam os vereadores. 

 “A gente fez esse protesto para chamar atenção dos órgãos competentes”, disseram os organizadores. 

A Policia Militar esteve no local para pedir a retirada de uma caminhonete que bloqueava o portão de entrada da ETE e impedia a entrada de funcionários. 

Depois da retirada dos veículos, dois funcionários da empresa entraram no local e abriram as comportas para o escoamento do esgoto, o que acabou gerando revolta e detenção do vereador Douglas Aguilar, que filmou a ação. Ele foi liberado em seguida. 

A Copasa nega que o esgoto despejado tenha sido "in natura".